Os vinhos do Porto são um autêntico Património da Humanidade, apesar de não ser reconhecido pela UNESCO. No séc. XXI, os Portos Vintage são cada vez melhores, como o demonstrou The Fladgate Partnership, detentora das marcas Taylor's, Fonseca e Croft, com o lançamento dos seus Vintages 2009
The Fladgate Partnership, empresa familiar que apenas produz vinho do Porto comercializado sob as marcas Taylor's, Fonseca e Croft, apresentou nas caves de Vila Nova de Gaia os seus Portos Vintages "clássicos" de 2009, recordando colheitas anteriores desta primeira década do século.
No final de uma tarde de provas dos Vintages 2000, 2003 e 2007, além dos Vargellas Vinha Velha 2000, 2004 e 2007 cheguei a uma indesmentível conclusão: o século XXI traz-nos Portos Vintages sucessivamente melhores. A estes "clássicos" poderíamos acrescentar Vintages de "quinta" (Roeda, Vargellas, Panascal e Terra Feita) de outras vindimas, confirmando que nesta primeira década do séc. XXI todos os anos The Fladgate Partnership declarou Vintage.
Há três razões fundamentais para esta regularidade de qualidade excecional nesta empresa: uma viticultura cada vez mais exigente em termos ambientais para a produção de uvas de qualidade; sintonia entre as áreas da viticultura e da enologia para encontrar desde o xisto ao cálice os melhores procedimentos tanto na vinha como na adega; melhor enologia pela competência técnica dos seus autores a par da seleção de aguardentes de superior qualidade para a feitura do vinho do Porto em lagar com pisa a pé.
PORTOS VINTAGES 'CLÁSSICOS', NOVOS E VELHOS...
Confesso não compreender o recurso à designação "clássico" para definir um vinho do Porto Vintage. É meu entendimento que um vinho do Porto ou é Vintage ou não é, ponto final parágrafo. Aparentemente aquele termo é usado em contraponto ao vinho do Porto Vintage de "quinta" (single quinta) no pressuposto de que os "clássicos" resultam do loteamento de vinhos de várias quintas ou procedências, enquanto os de "quinta" são fruto da propriedade referenciada no rótulo. Há, porém, Vintages "clássicos" que saem de uma só quinta (caso dos Croft, da Quinta da Roeda e, por vezes, os Fonseca, da Quinta do Panascal). Pressinto que esta distinção terá mais a ver com políticas comerciais do que, em bom rigor, com a qualidade do Vintage em si. Os estilos e os perfis são variáveis, tal como as colheitas de "clássico" ou de "quinta" são naturalmente diferentes, vindima após vindima.
Uma coisa é certa: o Vintage de "quinta" é por regra mais barato do que o "clássico". Esta controvérsia faz-me lembrar os anos oitenta do século passado quando, ainda neófito nestas andanças de vinho do Porto, me atrevi a propor que os Vintages se bebessem também novos. Caiu o "Carmo e a Trindade", porque os guardiões do templo da sagrada tradição "inglesa" consideraram uma heresia ousar beber uma preciosidade dessas apenas com dois anos de idade (período após a vindima durante o qual o Porto Vintage é aprovado e engarrafado como tal). Para esses enófilos integristas, um Vintage devia ser saboreado após 20, 30 ou mais anos de garrafa, coisa possível para quem tiver essa esperança de vida e preferir legitimamente vinhos velhos a vinhos novos. É claro que não esqueço o Porto Ferreira 1900, o Porto Vintage Niepoort 1945 e o Porto Vintage da Taylor's 1948 para não falar ainda de uma série de Portos da Quinta do Noval, da Graham's ou da Ramos Pinto inscritos no meu caderno de memórias gustativas. Mas isso são obras-primas a que raramente se tem acesso, pelo que será bom voltar à Terra e ter os pés bem assentes no chão. Os Vintages novos são excelentes Portos, cada vez mais bem vinificados, para beber desde logo após o engarrafamento, com a vantagem dos seus preços mais moderados.
Os consumidores norte-americanos passaram a saboreá-los jovens com charutos "puros" de Cuba (e não com queijos ingleses.), desde que os Vintages de 1994 da Fonseca e da Taylor's foram considerados pela revista norte--americana The Wine Spectator como os melhores vinhos do mundo na sua edição de dezembro de 1997. Os sacerdotes defensores dos sagrados Vintages velhos não se atreveram a levantar a voz contra aquela "heresia" dos EUA, porque afinal com charutos "comunistas", em vez de queijos ingleses, o negócio não deixava de ser generoso.
OS VINTAGES 2009
Os Portos Vintages (Taylor's, Croft e Fonseca) que voltamos a provar das colheitas de 2000, 2004, 2003 e 2007 confirmaram a sua bondade e qualidade excecionais tal como em devido tempo assinalámos. Os 2000 da Fonseca e da Taylor's na VISÃO de 21 de novembro de 2002, e os de 2007 na crónica de 29 de outubro de 2009.
O estilo dos Croft, elegantes e vigorosos, confirmam que a Quinta da Roeda está justamente localizada na Paisagem vinhateira classificada pela UNESCO como Património da Humanidade.
Os Fonsecas são um monumento ao vinho do Porto e prometem longevidade sem fim. Os Vargellas Vinha Velha 2000, 2003 e 2007 são Portos Vintage femininos com grande capacidade de envelhecimento. Por fim as novidades: Croft Porto Vintage 2009 Muito equilibrado, com boa estrutura; aromas florais e a amoras maduras, sem doçura excessiva.
Fonseca Porto Vintage 2009 Cor da tinta-da-china; encorpado e pujante; aromas a violetas e sabores intensos a uvas sãs bem amadurecidas. O meu preferido de 2009.
Taylor's Porto Vintage 2009 Um Porto para séculos porque se apresenta muito taninoso.
Ora todo este património báquico de rara qualidade só é possível graças a um trabalho de equipa concertado e continuado, em que sobressaem Adrian Bridge, diretor executivo (administração), Natasha Bridge (chefe da sala de provas, onde tudo se decide), David Guimaraens (diretor de enologia) e António Magalhães, responsável pela viticultura das sete quintas da empresa (Roeda, Panascal, Cruzeiro, Santo António, Vargellas, Terra Feita e Junco). Termino a crónica onde, afinal, tudo começa: no xisto, onde o homem desde há milénios unha a videira para nosso prazer, felicidade e longa vida.
By José A. Salvador (texto) e Filipe Paiva (foto)
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